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Armas vs Democracia

Presidente vendedor de armas: um sintoma psicopatológico para o País

por Ericson Scorsim

set 06, 2021

O Brasil tem um presidente promotor de vendas de armas de fogo, em larga escala. Não são armas de pequeno calibre; ao contrário há a apologia à venda de fuzis. São armas de guerra. Acho que nunca na história deste País tivemos um presidente com sucesso de vendas de armas. Suas imagens, palavras e discursos contribuíram para o aumento da venda de armas no País.  De modo descarado, ele faz a publicidade de armas.  É um, como se diz, no jargão empresarial, um case de sucesso. É um presidente que faz a apologia as armas, coligado aos “merchants of death”. É o instinto de Tanatos prevalecendo sobre o instinto da vida. Ao invés de o presidente SE ocupar com a pandemia e proteção à vida e à saúde dos cidadãos preocupa-se com armas. Mas, este um símbolo de uma presidência macabra e psicopatológica que temos no País.

O ocupante da Presidência da República adota uma narrativa de pseudologia fantástica, isto é, uma fantasia baseada em mentiras, negação e inversão da realidade. Ou seja, o líder psicopatalógico é aquele não tem a percepção da realidade como os cidadãos saudáveis psiquicamente. Por transtornos mentais, o líder tóxico manipula a percepção da realidade, conforme seus interesses e/ou seu inconsciente.  Sobre o tema da pseudologia fantástica, Carl Jung em seu livro Aspectos do drama contemporâneo (Petrópolis, Editora Vozes, 2012), descreve a ascensão de Hitler ao poder suas técnicas de manipulação das pessoas. Outro autor a aprofundar o tema, é Luigi Zoja em sua obra Paranoia (London/New York: Routledge, 2017) o qual analisa as lideranças psicopatológicas, baseadas na pseudologia fantástica, entre os quais: Hitler, Mussolini e Stalin.

O fetiche quanto às armas é um sintoma psicopatalógico. A arma é percebida como uma extensão do corpo. Talvez, este fetiche seja um sintoma da impotência psíquica, física e orgânica do sujeito.  A impotência do sujeito leva ao fetiche com as armas. A arma como extensão do falo do sujeito. Para falos pequenos, armas maiores. As imagens do Presidente portando armas nada ficam a dever a imagens do grupo Talibã, o qual é reconhecimento internacionalmente pelas poses de homens com armas.

Os Estados Unidos têm uma forte indústria de armamentos. Há uma cultura de venda de armas em supermercados. Porém, esta cultura armamentista tem causado tragédias e massacres em massa: em escolas, hospitais, shopping, ruas, boates, etc. Se o Brasil adotar este caminho armamentista dos Estados Unidos, com o apoio do presidente brasileiro, certamente haverão novas tragédias.

Fica a questão, por quê não se busca armar as forças policiais, treinar e educar, com investimentos significativos na segurança pública? O porquê da busca do armamento de civis? Ao que tudo indica, o objetivo estratégico é a criação de grupos paramilitares em moldes de milícias urbanas e rurais. O objetivo final é a criação de um “partido fardado”. Esta busca de armamento é um retrocesso histórico. Há riscos inclusive de furto destas armas por quadrilhas.  

O Estado Democrático de Direito e a Constituição demandam a pacificação social. As armas devem ficar para os profissionais da segurança pública. Acredito que as forças armadas e as forças policiais são, inclusive, contrárias ao armamento de cidadãos. O presidente populista e pseudofacista, ao invés de enfrentar a política de segurança pública de modo sério e eficaz, brinca com o País com o armamento dos cidadãos. Isto tem cheiro de atuação como lobista a serviço da indústria de armas estrangeira, fato este a ser apurado pelos jornalistas e divulgados à opinião pública. O País é maior do que um presidente anti-democrático, protofacista e psicopatológico.

Por isso, a resiliência civil dos cidadãos, instituições e entidades da sociedade civil é a melhor vacina para o enfrentamento deste projeto de poder autoritário.

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Ericson Scorsim. Advogado e Consultor em Direito Público. Doutor em Direito pela USP.