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União Europeia e o poder computacional: na análise da edge computing (computação em borda)

por Ericson Scorsim

abr 26, 2021

Ericson Scorsim. Advogado e Consultor em Direito Regulatório das Comunicações. Doutor em Direito pela USP. Autor do livro Jogo geopolítico entre Estados Unidos e Chia na tecnologia 5G: impacto no Brasil, publicado pela Amazon

A Comissão da União Europeia apresentou, em 9.3.2021, suas linhas de entendimento sobre a década digital da Europa.[1] O objetivo é garantia da soberania digital da Europa, mediante a construção de capacidades tecnológicas. Assim, busca-se a enfatizar a computação em nuvem, inteligência artificial, identidade digital e o poder computacional e infraestruturas de conectividade.

No aspecto da computação na borda (edge computing), quer-se aproximar a capacidade edge (usuários finais da tecnologia) das redes de telecomunicações. Outro objetivo é garantir até 2030 a produção de semicondutores em território europeu. Além disso, quer-se promover o engajamento internacional, mediante parcerias estratégicas com países da África, Ásia e América Latina e Caribe.  Destacam-se os incentivos à construção de provedores de computação em nuvem em território europeu, mediante a instalação de data centers, redes de comunicação eletrônicas por empresas europeias.

No aspecto da inteligência de computação na borda (edge computing), há a menção aos programas de monitoramento dos veículos autônomos e sua respectiva segurança. Os projetos de veículos autônomos dependerão de redes de 5G, IoT e computação na borda, para funcionarem adequadamente, pois os mesmos dependerão de uma rede de sensores instalados nos carros, nas ruas e estradas, com capacidade de processamento em tempo real de informações sobre a movimentação dos veículos e sinais de alerta quanto à presença de outros veículos e/ou pedestres.

Outra aplicação de computação na borda (edge computing) refere-se aos projetos de fazendas inteligentes (smart farming), as quais demandam capacidade de conexão das máquinas agrícolas, por uma rede de sensores, de modo a favorecer a agricultura e a agropecuária de precisão. E, ainda, outra aplicação de computação na borda (edge computing) refere-se à manufatura como serviço, de modo a possibilitar o acesso local às redes de computação em nuvem. Quanto aos projetos nas áreas da saúde, há a coleta de dados e gravações de dados em nível local, no contexto da pandemia do coronavírus. Além disto, no setor governamental, há a previsão da computação em borda para o provimento da capacidade de processamento para a administração pública local. Para além do ecossistema de computação em nuvem (cloud computing) e computação na borda (edge computing), com potenciais benefícios para as empresas e administrações públicas europeias, há ainda a necessidade se de avançar na capacidade computacional, mediante investimentos de tecnologias de supercomputação e por computação quântica.  Computadores quânticos permitirão o desenvolvimento da medicina, mediante a simulação do corpo humano (digital twin), permitindo-se a aplicação virtual de remédios, a personalização de tratamentos médicos, sequenciamento do genoma, etc.

A computação quântica possibilitará o aumento da segurança das comunicações e transferência de dados. Assim, a computação quântica oferece maiores garantias à proteção de comunicações sensíveis. Além disto, há a partir de sensores quânticos baseados na terra será possível melhorar o monitoramento dos recursos terrestres, marítimos e aeroespaciais. Além disto, a computadores quânticos possibilitarão a otimização da utilização de algoritmos em atividades logísticas de modo a poupar tempo e combustível. A transformação digital da União Europeia está focada em cinco ecossistemas: manufatura (conectividade por redes 5G, robótica nas fábricas, inteligência artificial, digital twins e impressão 3D), saúde (digitalização do setor), construção civil (aumento da produtividade mediante a digitalização de atividades), agricultura de precisão (aumento da produtividade, soluções digitais e controle de pesticidas) e mobilidade (redução de acidentes, segurança no trânsito, consumo eficiente de combustível).

Nas metas para 2030, a União Europeia pretende alcançar: i) 75% (setenta e cinco por cento) das empresas migrarão para serviços de computação em nuvem, big data e inteligência artificial, ii) mais de 90% (noventa por cento) das pequenas e médias empresas europeias alcançarão níveis básicos de intensidade digital; iii) ambiente favorável à inovação e acesso ao capital financeiro, de modo a dobrar o número de unicórnios na Europa. No âmbito dos serviços públicos, pretende-se ampliar os serviços de telemedicina, os quais aumentarão significativamente durante a pandemia. Também, quer-se promover a acessibilidade aos serviços públicos digitais.

Resumindo-se a União Europeia tem metas claras para 2030 quanto às infraestruturas digitais sustentáveis: conectividade (todos os domicílios serão cobertos por redes de gigabyte, em áreas populosas com 5G), semicondutores (a produção de semicondutores, incluindo-se processadores de, no mínimo, em 20% (vinte por cento) do valor da produção mundial), edge/cloud (10.000 pontos edges neutros climaticamente, distribuídos de modo a garantir o acesso aos serviços de dados em baixa latência aonde os negócios estiverem localizados) e computação quântica (por volta de 2025, a Europa terá o primeiro computador com aceleração quântica).[2]

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